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Música: Pop- A ovelha negra da carreira dos U2?

Ainda em plena década de 70, mais concretamente em 1978, um então jovem baterista, Larry Mulen Jr, colocou um anúncio na sua escola a dizer "musicians wanted". Intrigados com tal proposta, os demais Bono, The Edge e Adam Clayton apareceram. Nasciam os "Feedback"... que passaram a "The Hype" e finalmente, U2. Após muitos ensaios em Dublin, na... cozinha de Larry e uma crescente reputação, graças às apaixonadas actuações, o ano de 1980 assiste ao nascimento oficial da banda com o álbum "Boy", uma bem sucedida estreia. Em 83, a 1ª consagração: o nº 1 da tabela de vendas com o LP "War", que contava com hits como, por exemplo, "New Year's Day". E nos anos 80, o melhor estava para vir... 
Fast forward até meados dos anos 90. Com o estatuto de melhor banda do mundo, arrecadado graças à genialidade e ao avant garde de "Achtung Baby" e "Zooropa", uma chuva de prémios, tours esgotadas, um MTV Movie Award de Banda do Ano por causa de uma música (Hold Me Thrill M Kiss Me Kill Me de 95) e colaborações sectoriais fora da banda (Bono e The Edge escrevem "GoldenEye" para Tina Turner e a dupla Mullen Jr/Clayton compõe o tema principal de Missão: Impossível), chega o impensável, segundo muitos! Quando se pensava que o caminho a seguir seria o de acalmia no tom marcadamente electrónico da banda, surge "Pop" (é favor de clicar play ali ao lado), uma criação que parecia feita para as pistas de dança. Só. "Discotheque", single de avanço denunciou logo o que se seguiria: ritmos dançáveis, teclados, samples, multilayers e tudo mais... Para ajudar à festa, a PopMart Tour!
O álbum foi logo marcado como pela crítica: a banda haviam perdido a noção... Músicas como "Mofo" eram algo de estranho no catálogo dos irlandeses, mesmo olhando ao que passou. Era muita remisturada, muita batida, tudo muito plástico! Não eram os U2. Os mesmos, pelo menos. Aqueles da sensibilidade tocante de "Joshua Tree". À época, eu era um fã incondicional e corri a comprar o cd (outros tempos, estávamos em 1997!). Eu tinha-me habituado a ouvir o estilo 80's da banda, mas não me chocou aquela mixórdia. Por outro lado, achava que era um LP marcadamente... pós-grunge! Passo a explicar. A 2ª metade dos 90's é marcada pela orfandade de Nirvana e Soundgarden. A música rock não era a mesma. Aqueles U2 eram confusos, mas... preenchiam o vazio deixado fim progressivo da genialidade saída de Seattle. "You wanna be the song, be the song that you hear in your head" fazia muito sentido! Era um murro no estômago a abrir o álbum! "Do you feel loved?" era ligeiramente mais suave, com mais baixo, mas guiada pelo electrónico e com uma letra ácida e um refrão bem grave, com a guitarra em fundo...  Quando pensávamos que o volume ia baixar e electrónica em fade, aparece Mofo! Irreconhecível. Só mesmo Bono me garantiu que se tratavam dos U2! Ainda assim, dançável e mesmo... dirty. Era irresistível, o evil twin de "Discotheque", que já era mauzão! Mas não menos ácida ao nível lírico... "If God will send His angels" era mais intimista, mais U2 de antigamente e igualmente excelente. Já "Staring at the Sun" era mais a fugir para "Achtung Baby", sendo se calhar das melhores músicas do álbum. "Last night on Earth" é uma faixa claramente U2, mas claramente com a assinatura deste álbum. Outro ponto alto do álbum "Playboy Mansion", divertido e descomprometido. A fechar, "If you wear that velvet dress" e "Please", fugiam claramente ao tradicional, sendo o electropop intimista, mas nem por isso menos atmosférico! Sobretudo, "Please", que despida dos teclados, lembrava os tempos de "War". Além do alinhamento "normal" do álbum, há os lados B. E aí é a ramboia total! Brutal. Contém os meus mais queridos tesouros de U2. Uma cover de "Happiness is a warm gun" dos Beatles, só que mais dark e complexa. É das minhas músicas favoritas da banda, recomendo vivamente à sua descoberta! "Popmuzik" era o introito da tour. Um espanto visual e sonoro! Se calhar, este "lado" ainda é melhor! O tom sexy de "I'm not your baby" é brutal! E com a presença de Sinead O'Connor...
Pop é dos mais injustamente desprezados álbuns dos 90's! Até os fãs de U2 desconfiam. Mas liricamente, o estilo deles está lá. Fogem aqui e ali, mas se escutarmos com atenção, são os mesmos. Mas com ritmo! E experimentalismo. É brutal! Um golpe de originalidade. Quanto a mim, os "meus" U2, tiveram o seu canto de cisne com este álbum. Aliás, sublinho que a minha fase favorita vai de Joshua Tree a Pop! And all inbetween! Foi uma fase de total liberdade, do não convencional, onde nenhum território ficou por explorar. Foram 10 anos onde os irlandeses se mantiveram na crista da onda, à frente do seu tempo! U2 século XXI pode ser mais rico liricamente, mais homogéneo. Mas ao nível musical, temos 4 músicos da melhor cepa a explorar um género que me é querido, sem limites. Não digo que os últimos trabalhos da banda sejam maus ou irrelevantes, pelo contrário. Eles não sabem fazer mal, mesmo que tentem. Só que... para mim é tudo muito by the book, com laivos de génio aqui e ali, como Vertigo ou Elevation. Bom, por estas duas músicas percebe-se que U2 gosto... São mesmo esses! Não troco este por nenhum dos três últimos álbuns... 

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About Simon

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2 minis fresquinhas :

Carlos Santos disse...

Excelente post! Concordo que o Pop foi um álbum subvalorizado e esquecido por quase todos, quando para mim foi um álbum vanguardista e a sequência lógica de "Acthung Baby" e "Zooropa". O mundo porventura não estava preparado para algo tão "electrónico" por parte dos U2.
Além do mais já ficaria satisfeito se qualquer um dos álbuns lançados pelos U2 posteriormente tivesse metade da qualidade do Pop...

Simon disse...

Obrigado! Volta sempre.